
China pede a Trump que pare de 'ameaçar e chantagear'

A China fez um apelo nesta quarta-feira (16) para que os Estados Unidos "parem de ameaçar e chantagear", depois que a Casa Branca transferiu a Pequim a responsabilidade de iniciar uma negociação para desacelerar a guerra comercial entre as duas grandes economias mundiais.
O presidente americano, Donald Trump, iniciou uma guerra tarifária contra aliados e rivais, na qual a China ficou com a pior parte, com tarifas adicionais de 145% para seus produtos importados pelo país da América do Norte.
O país asiático respondeu com tarifas de 125% para as importações de produtos americanos. "A China não deseja lutar, mas não tem medo de lutar", reiterou nesta quarta-feira o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian.
"Se os Estados Unidos realmente querem resolver o assunto por meio do diálogo e da negociação, devem parar de exercer pressão extrema, parar de ameaçar e chantagear, e conversar com a China com base na igualdade, respeito e benefício mútuo", insistiu.
Desde sua chegada à Casa Branca em janeiro, Trump impôs tarifas adicionais de 145% a vários produtos chineses, que se somam às tarifas aplicadas pelas administrações anteriores.
Inicialmente, o republicano decretou taxa de 20% pelo suposto papel da China na entrada de fentanil nos Estados Unidos e, pouco depois, acrescentou outros 125% para teoricamente compensar os desequilíbrios na balança comercial entre os dois países.
Contudo, em um aparente indício de distensão, o governo americano isentou das tarifas mais recentes produtos como computadores, smartphones e semicondutores, dos quais a China é um grande produtor.
- "No campo da China" -
Na terça-feira, a Casa Branca transferiu para a China a responsabilidade de dar o primeiro passo para reduzir a tensão que, segundo vários economistas, pode levar a uma recessão global.
"A bola está no campo da China. A China que precisa de um acordo com os Estados Unidos e não o contrário", afirmou Trump em uma declaração lida por sua porta-voz, Karoline Leavitt.
Apesar da disputa, a economia chinesa cresceu 5,4% no primeiro trimestre. O resultado, melhor do que o esperado, ainda não reflete os efeitos da guerra tarifária iniciada em abril.
Na apresentação do resultado, Sheng Laiyun, funcionário de alto escalão do Escritório Nacional de Estatísticas (ONE), reconheceu "certa pressão sobre o comércio e a economia", mas expressou confiança na capacidade da China de "enfrentar os desafios externos".
Além do aumento expressivo das tarifas, Pequim adotou outras medidas de retaliação contra produtos americanos, como a suspensão da recepção de aviões da Boeing.
O setor agrícola também está no radar das autoridades comunistas. A federação de exportadores de carne dos Estados Unidos confirmou à AFP que Pequim decidiu não renovar as licenças da maioria dos exportadores de carne bovina desde meados de março.
- Negociações -
A estratégia de Trump foi mais conciliadora com os demais países, que receberam uma trégua de 90 dias para negociar antes da aplicação da última rodada de tarifas "recíprocas".
Nesta quarta-feira, um representante do governo japonês, Ryosei Akazawa, se reunirá em Washington com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, com a esperança de conseguir um acordo em que "todos vençam".
Horas antes do encontro, a montadora japonesa Honda anunciou que vai transferir a fabricação de seus modelos híbridos Civic para os Estados Unidos, embora isso represente uma pequena fração de sua produção global.
Idealizada com o objetivo de levar a produção industrial de volta aos Estados Unidos, a política tarifária de Trump afetou alguns dos principais parceiros de Washington, como Japão, Coreia do Sul, União Europeia, México e Canadá.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou em entrevista à revista alemã Die Zeit que o bloco está "em uma posição de força" diante de futuras negociações.
"Nós, europeus, sabemos exatamente o que queremos e quais são os nossos objetivos", afirmou.
Além de uma tarifa universal de 10% para todos os países, Trump também decretou tarifas setoriais sobre o aço e o alumínio, além dos automóveis e autopeças.
Também estuda aplicar medidas similares aos semicondutores e produtos farmacêuticos. Na terça-feira, ele ordenou o estudo da implementação de tarifas para minerais críticos e "produtos derivados", como os smartphones.
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L. Dias--JDB